A maioria da população brasileira não tem a oportunidade de conhecer, ou sequer saber, o que é uma Academia de Letras.
Nas escolas, especialmente no interior do país, as crianças recebem o mínimo de conhecimento, convivendo com a péssima realidade da falta de infraestrutura: mobiliários velhos ou quebrados, salas sem climatização, bibliotecas com acervos desatualizados, ausência de água encanada, banheiros precários ou inexistentes, falta de laboratórios e carência de professores valorizados, capacitados, bem remunerados e respeitados.
Diante de um sistema educacional precário, com crianças frequentando as aulas com fome e enfrentando diariamente problemas sociais graves, como esperar que estejam em condições emocionais, psicológicas e físicas para aprender com qualidade?
Se não há valorização profissional, como pensar em oferecer aos alunos oportunidades culturais e atividades esportivas conduzidas por profissionais qualificados?
Além da urgente necessidade de proporcionar educação formal de qualidade, é preciso refletir: como incentivar a criação e o fortalecimento de Academias de Letras?
Uma cidade que abriga uma Academia de Letras oferece inúmeras possibilidades aos seus moradores: lançamento de antologias, saraus, concursos literários, rodas de conversa com escritores, feiras literárias, palestras, oficinas, feiras do livro e até “pedágios literários”.
Quando ingressei na Academia de Letras de Biguaçu (ALBIG), passei a ocupar a cadeira 21, cujo patrono é Jorge Lacerda. Tive a oportunidade de conviver com confrades de diversas formações e com vasta produção em diferentes gêneros literários. Posteriormente, tive a honra e a responsabilidade de presidir a Casa Literária, período em que conseguimos “abrir” as portas da instituição para a comunidade.
Que alegria!
A Casa Literária é, de fato, a “Casa do Povo”.
Naquele período, realizamos solenidades e eventos literários que foram amplamente prestigiados pela imprensa, lideranças políticas, membros de outras academias, estudantes, familiares e a comunidade em geral. Graças a concursos literários promovidos nas escolas públicas e privadas, foi possível publicar, na Antologia da ALBIG, os melhores trabalhos dos estudantes — jovens que, futuramente, poderão se tornar escritores.
A Prefeitura apoiou o projeto, custeando a publicação. Com um investimento modesto, conseguimos levar a antologia para a cidade, para o estado e até para outras regiões do Brasil, divulgando o nome de Biguaçu.
Os livros que estavam encaixotados na sede, somados aos que recebemos em doação, foram utilizados em dois pedágios literários. Nesses momentos, os confrades, vestindo seus tradicionais fardões azuis, paravam os veículos em frente à sede e entregavam exemplares gratuitamente, incentivando a leitura. Muitos motoristas, a princípio, recusavam o livro por acharem que teriam de pagar, mas logo eram informados de que se tratava de uma ação gratuita de incentivo à leitura e de apresentação da Academia.
Também utilizamos a rádio comunitária, o jornal local e a internet para produzir matérias, programas e entrevistas com acadêmicos. Assim, pudemos apresentar à comunidade suas obras, suas inspirações e estimular novos leitores e futuros escritores.
As Academias de Letras precisam ir ao encontro da população.
Os escritores precisam ser conhecidos e seus trabalhos, lidos.
Livros guardados em prateleiras, caixas ou empilhados em um canto servem para quê?
Conhecimento trancado não liberta nenhuma mente.
Sem livros e sem conhecimento, a população continuará sem senso crítico, sem pensar, sem sonhar, sem viajar…
Por Fernando Henrique da Silveira
Advogado, jornalista, funcionário público estadual e radialista.
Presidente (2021–2025) e vice-presidente (2019–2021 e 2025–2027) do Conselho Estadual de Entorpecentes de Santa Catarina (CONEN/SC).
Doutor em Ciências Jurídicas e Sociais.
Palestrante na área de políticas públicas sobre drogas.
E-mail: fernandohsilveira@hotmail.com