A política brasileira caminha a passos largos para o surreal. A mais recente demonstração disso é a cogitação do nome de Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), atual vereador do Rio de Janeiro e filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, como possível candidato ao Senado Federal por Santa Catarina nas eleições de 2026. A proposta, defendida abertamente pelo próprio pai, não é apenas politicamente artificial — é um insulto à inteligência e à autonomia dos catarinenses.
Carlos Bolsonaro não tem qualquer ligação com Santa Catarina. Nunca morou no estado, jamais exerceu função pública aqui, tampouco demonstrou interesse pelas demandas locais. Seu currículo político está vinculado exclusivamente ao município do Rio de Janeiro, onde ocupa o cargo de vereador. A tentativa de lançá-lo como representante de um estado com o qual não tem nenhuma identificação escancara o projeto de poder familiar que ignora completamente o respeito pelas bases locais e pelos eleitores.
A justificativa? Santa Catarina deu uma das maiores votações proporcionais a Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2018 e 2022. E, por isso, o ex-presidente parece acreditar que pode “importar” um nome estranho à realidade catarinense para capitalizar politicamente essa popularidade. Uma lógica perigosa, antidemocrática e francamente desrespeitosa.
A candidatura de Carlos Bolsonaro, se confirmada, será uma afronta à política local, frustrando lideranças que atuam diariamente em prol do estado, conhecem sua realidade e têm compromisso com a população. É inaceitável que Santa Catarina seja tratada como trampolim eleitoral para outsiders que veem aqui apenas um território fértil para votos, e não uma sociedade com história, cultura e representatividade próprias.
Os catarinenses merecem — e têm — nomes capazes de representá-los com legitimidade no Senado. Trazer alguém de fora, como se o estado fosse carente de lideranças, é dar um recado de desprezo à força política regional. É reduzir o eleitor a massa de manobra de um projeto familiar que, mais uma vez, prioriza conveniências pessoais em detrimento do interesse público.
Cabe aos eleitores catarinenses dar a resposta — e mostrar que Santa Catarina não é curral de ninguém